top of page

Versalhes do Cerrado: a Corte dos Honoráveis

  • Foto do escritor: René Santos Neto
    René Santos Neto
  • 16 de jul.
  • 1 min de leitura
ree

Num país onde o feijão virou artigo de luxo e o metrô é sonho de campanha, emerge do mármore e do vidro fumê da Esplanada uma nova aristocracia: os advogados da União, que embolsam, às escondidas, até R$ 547 mil em um único mês.


Meio milhão. Em um mês. Sem transparência.


Não se trata de denúncia de corrupção. Muito pior: é legal. É juridicamente compatível com os regulamentos internos. É parte do feudalismo remuneratório que vigora nas castas estatais. Um país onde quem julga, defende e acusa o Estado vive em bolha de champanhe.


Versalhes era assim.


Luís XIV, o “Rei Sol”, recebia os súditos com vestes bordadas a ouro enquanto a plebe, lá fora, comia pão velho — quando comia. O paralelo não é exagero. O Palácio da AGU se ergue em vidro espelhado, como quem já sabe: a sociedade não deve ver para onde vai o dinheiro.


O escândalo — sim, é escândalo — é mais profundo que os números. É sobre simbolismo. Porque esses honorários milionários pagos sem critério público são uma cusparada diária, como bem resumiu um comentarista indignado, na cara da sociedade.


É o retrato de um Brasil patrimonialista, onde a elite do funcionalismo virou a nova nobreza. Blindada por siglas, gratificações, verbas “indenizatórias”, incorporações fictícias e mecanismos que fariam corar um banqueiro suíço.


Mas a revolta popular está longe de 1789. Aqui, quem se indigna é chamado de “inimigo do serviço público”. Como se serviço público fosse isso: um castelo de privilégios pagos pela senzala da CLT.


Até quando a plebe vai aplaudir os bufões da corte?

Comentários


bottom of page