Ratinho Junior e o Xadrez Presidencial de 2026: o novo nome do centro conservador ganha musculatura eleitoral
- René Santos Neto
- 5 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: há 1 dia

Com a divulgação da mais recente pesquisa Genial/Quaest em junho de 2025, o cenário para as eleições presidenciais de 2026 começa a ganhar contornos mais nítidos — e, ao mesmo tempo, mais complexos. Uma figura política que vem ganhando destaque nacional e consolidando sua presença entre os presidenciáveis é o governador do Paraná, Ratinho Junior (PSD). Seus números nas simulações de segundo turno contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não só surpreendem, como também o posicionam como um dos principais players de um campo conservador fragmentado, mas em busca de renovação.
Segundo o levantamento, Ratinho Junior aparece com 38% das intenções de voto em um eventual segundo turno contra Lula, que registra 40%. Trata-se de um empate técnico, dentro da margem de erro da pesquisa, que é de dois pontos percentuais. Para um nome que até pouco tempo não era cogitado nas rodas nacionais como presidenciável, o avanço é significativo. Ratinho aparece praticamente empatado com nomes muito mais testados nacionalmente, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL) e Eduardo Leite (PSDB), todos orbitando na mesma faixa de intenções de voto.
Este crescimento de Ratinho Junior deve ser interpretado dentro de um conjunto de fatores. O primeiro é o colapso do favoritismo absoluto de Lula. Em 2023 e início de 2024, Lula vencia com folga em todas as simulações. No entanto, sua rejeição cresceu e sua avaliação positiva caiu — apenas 26% avaliam positivamente o governo, contra 43% que avaliam negativamente. A crescente impopularidade de Lula alimenta a competitividade da oposição, abrindo espaço para novos nomes como o do governador paranaense.
Outro elemento importante é a crise de sucessão na direita. Jair Bolsonaro, ainda inelegível até 2030, afirma que tentará ser candidato, mas 65% dos brasileiros entendem que ele deveria abrir espaço para outra liderança. Neste vácuo, Ratinho Junior desponta como alternativa “menos polarizadora”, associada ao campo conservador, mas sem as marcas negativas do bolsonarismo mais radical. Em termos de rejeição, também se sai melhor que os demais: enquanto Lula e Bolsonaro ultrapassam os 55% de rejeição, Ratinho ainda se mantém em níveis baixos, o que amplia sua margem de crescimento.
Apesar disso, o governador ainda precisa transpor algumas barreiras para viabilizar sua candidatura. A primeira é interna ao próprio campo conservador. O PL de Bolsonaro mostra-se relutante em apoiar qualquer nome que não venha diretamente da família Bolsonaro ou do círculo mais próximo. Michelle Bolsonaro, por exemplo, aparece na pesquisa com 39% das intenções contra Lula (43%), o que a coloca na disputa. No entanto, pesquisas internas do PL indicam que ela tem resistência em assumir uma campanha de alto desgaste.
Ratinho Junior, por sua vez, é filiado ao PSD — partido que tem em Gilberto Kassab um articulador pragmático e inclinado a negociar tanto com o governo quanto com a oposição. Essa independência pode ser um trunfo ou uma armadilha. Se por um lado garante a Ratinho uma imagem de gestor técnico, por outro pode afastá-lo de uma base de apoio coesa, especialmente se o PL não fechar apoio à sua candidatura.
A grande vantagem de Ratinho Junior está em seu capital político. Reeleito com ampla vantagem no Paraná, controla a máquina estadual com folga e dispõe de um histórico administrativo estável e com bons índices de aprovação. A sua gestão é bem vista especialmente em temas como segurança pública, infraestrutura e atração de investimentos. Esse desempenho o credencia como um “governador bem-sucedido”, algo que pode contrastar com a atual instabilidade da gestão federal.
Ademais, o estilo discreto de Ratinho Junior — avesso a polêmicas, de linguagem moderada e com perfil técnico — o torna uma figura palatável para o eleitorado de centro, que rejeita tanto o lulismo quanto o bolsonarismo raiz. É exatamente neste ponto que reside o seu maior potencial: ocupar o espaço do conservadorismo moderado, com apoio de setores empresariais, ruralistas e das igrejas, sem necessariamente assumir o figurino de extrema-direita.
A Quaest ainda mostra que 11% dos eleitores apontam Ratinho como o nome ideal da direita para 2026 caso Bolsonaro não seja candidato. Está atrás de Tarcísio (17%) e Michelle (16%), mas à frente de figuras como Romeu Zema (Novo) e Ronaldo Caiado (União Brasil). O fato de já estar nesse patamar indica que ele está na mesa das negociações.
No entanto, para se consolidar como candidato viável à presidência, Ratinho Junior precisará:
Aumentar sua presença nacional com uma agenda estratégica de viagens e alianças;
Ampliar sua identificação com o eleitorado do Nordeste, região onde é menos conhecido;
Evitar ser visto como “candidato do sistema”, mantendo uma imagem de renovação dentro da ordem;
Definir um palanque político sólido, especialmente se o PSD optar por não lançar candidatura própria ou negociar sua participação em uma chapa de vice.
Outra possibilidade aventada nos bastidores é a candidatura de Ratinho Junior como vice-presidente em uma chapa encabeçada por Tarcísio ou até Michelle Bolsonaro, compondo uma aliança PL-PSD. Isso permitiria a ambos os partidos uma candidatura de unidade, diluindo as tensões internas da direita e maximizando o potencial eleitoral. Seria também uma forma de Ratinho se projetar nacionalmente sem se lançar diretamente à fogueira presidencial.
Independentemente do desfecho, é inegável que Ratinho Junior deixou de ser uma figura estadual para se tornar um nome nacional em ascensão. Sua performance na pesquisa Genial/Quaest não é um acaso: é reflexo de uma conjuntura nacional desgastada, uma direita em busca de renovação e um centro político órfão de lideranças com capacidade de diálogo e gestão.
A eleição de 2026 ainda está longe, mas o xadrez já está armado. E, ao que tudo indica, Ratinho Junior não é mais apenas uma peça no tabuleiro — começa a se apresentar como um dos principais jogadores.
Referência:
GENIAL INVESTIMENTOS; QUAEST PESQUISAS E CONSULTORIA. Pesquisa Nacional de Opinião – Cenário Eleitoral para 2026. Realizada entre 25 e 28 de maio de 2025 com 2.000 entrevistados em 120 municípios das 27 unidades da federação. Margem de erro de 2 pontos percentuais. Registro TSE: BR-06733/2025.
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