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Moro estabiliza, Curi desponta, Greca testa a água: o que a nova Ágili revela sobre 2026 no Paraná

  • Foto do escritor: René Santos Neto
    René Santos Neto
  • há 5 dias
  • 6 min de leitura
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A nova rodada da Ágili para a corrida ao governo do Paraná em 2026 chega com uma mensagem nítida e duas entrelinhas importantes. A mensagem nítida: Sergio Moro mantém a dianteira com folga nos cenários em que é testado. As entrelinhas: Alexandre Curi aparece como o nome com melhor “trilha de crescimento” entre os aliados do governo Ratinho Junior e Rafael Greca demonstra viabilidade competitiva — sobretudo quando a disputa se organiza sem a presença de Moro. Em termos práticos, o levantamento não encerra o debate; ele o organiza. E, ao organizá-lo, oferece pistas valiosas para a estratégia dos principais players.

Segundo a Ágili (1.509 entrevistas, 3 a 10 de outubro, margem de erro de ±3 p.p.), Moro marca 39,7% no Cenário 1 (Requião Filho 15,7%; Paulo Martins 9,5%; Guto Silva 5,2%) e 37,9% no Cenário 2, quando entra Alexandre Curi (11,3%) em lugar de Guto Silva (Requião Filho 14,8%; Paulo Martins 9,6%). No Cenário 5, com Rafael Greca na cartela, Moro segue à frente com 32,2%; Requião Filho aparece com 16,3% e Greca 13,5%. Nos cenários sem Moro, a disputa aperta: Requião Filho (23,3% a 23,6%), Curi (15,0% quando presente) e Greca (18,0% no Cenário 6) dividem um eleitorado que, sem um favorito, volta a exibir taxas elevadas de “nenhum” e “não sabe” (entre 30% e 41%). A amostra foi de 1.509 eleitores, com 95% de confiança e ±3 p.p. de erro amostral.

Abaixo, três leituras essenciais.


1) O “platô” de Moro e seu significado estratégico


Os altos 30% de Moro aparecem de forma consistente — e em amplitude territorial suficiente para sustentá-lo como favorito no curto prazo. Há três razões para esse desempenho:

  1. Recall e matriz ideológica: Moro herda por inércia uma fração do voto antipetista/anticorrupção que o Paraná historicamente abriga. É um voto de baixa volatilidade, que não “some” sem um concorrente claramente mais competitivo do mesmo campo.

  2. Desorganização dos oponentes: Nem a esquerda (Requião Filho/Ênio Verri) nem a direita liberal/centro (Curi/Paulo Martins) exibem, por ora, densidade equivalente de narrativa e capilaridade para romper a inércia inicial.

  3. Baixo custo de preferência: Como não governa o estado, Moro não paga “pedágio” por insatisfações da máquina. Em um ambiente econômico apertado, estar fora do Executivo é um seguro.

Mas há duas travas que o levantamento também deixa à vista. A primeira é o teto potencial: quando entram nomes competitivos do PSD (Curi) ou da marca “gestão” (Greca), o índice de Moro cede alguns pontos (de ~39% para ~32% no Cenário 5). Isso sugere que o seu eleitorado não é monolítico — parte dele está mais em busca de vitória do campo do que, necessariamente, da sua marca pessoal. A segunda trava é o tamanho do espaço cinza: “nenhum” e “não sabe” seguem altos (na casa de 16% a 41%, dependendo do cardápio). Em eleições com turnos longos (e 2026 será um deles), platôs muito altos cedo demais às vezes transmitem mais sensação de inevitabilidade do que votos fechados.

Em síntese: Moro lidera e continua favorito, mas não está sozinho na pista. Se um candidato governista transformar capilaridade administrativa em voto, o platô de Moro será testado.


2) Por que Curi é o “ativo” com maior upside

Entre os nomes testados do entorno de Ratinho Junior, Alexandre Curi é o que mais chama atenção pela curva — e menos pelos números absolutos. No Cenário 2 (com Moro na disputa), Curi parte de 11,3% e, no Cenário 4 (sem Moro), salta para 15,0%, competindo no mesmo patamar de Paulo Martins e encostando em Requião Filho. O que esses dados dizem?

  • Baixa rejeição implícita: começar “baixo” em cenários com favorito e crescer quando o cardápio muda indica potencial de aceitação fora da bolha natural do PSD.

  • Canal de transferência: o grupo do governador tem um ativo que nenhuma outra campanha possui: prefeitos e lideranças locais alinhados em todo o estado, além da popularidade persistente de Ratinho. Se metade dessa estrutura for dedicada a um único nome, a escada de Curi pode ser rápida.

  • Perfil de gestão: a eleição de 2026 não precisa ser travada na clivagem ideológica clássica. “Ordem + serviço entregue + obra no chão” será uma retórica muito poderosa no interior. Curi conversa com esse repertório.

O desafio é outro: transformar musculatura institucional em voto, o que exige narrativa própria (não só “continuidade”), territorialização da campanha (rotas no Noroeste, Oeste e Sudoeste com entregáveis claros) e coalizão disciplinada (reduzir ruídos de aliados dentro do próprio PSD). Se o governo resolver o “quem” cedo e calar as dissonâncias, Curi é quem mais tem a ganhar ao longo de 2025-26.


3) Greca é viável — e muda o jogo em Curitiba e RMC


O dado novo mais relevante está nos cenários com Rafael Greca. Com 13,5% quando Moro concorre e 18,0% quando Moro está fora, o ex-prefeito demonstra viabilidade real — sobretudo por uma característica: seu voto é concentrado no maior colégio eleitoral do estado (Curitiba e Região Metropolitana). Na prática, isso significa que arrancadas de última hora são possíveis com baixa logística (menos dispersão de recursos) se a candidatura for bem organizada.

Greca tem três cartas a jogar:

  1. Entrega visível na capital: corredores, obras, zeladoria e a percepção de “cidade funcionando” são trunfos comunicáveis para além da divisa municipal, especialmente na RMC.

  2. Conhecimento pleno: em campanhas curtas, “não precisar se apresentar” vale ouro. Greca parte sem custo de awareness.

  3. Convergência com o PSD: se vier com lastro do grupo Ratinho — ainda que como “plano B” —, monta um palanque competitivo com pouca fricção.

Mas também carrega dois riscos. O primeiro é a tradução estadual: o que Greca significa em Loanda, Palmas, Marechal e União da Vitória? Sem respostas claras (e sem embaixadores regionais), a candidatura não escala. O segundo é a fadiga: parte do eleitorado pode preferir um rosto novo (Curi) para representar a continuidade do projeto. Em números: 18% sem Moro é um bom ponto de partida, mas não garante o segundo turno se houver dois governistas competitivos na pista.


O fator Ratinho — e o mapa de coalizões

Nenhuma leitura da Ágili faz sentido sem considerar o capital político de Ratinho Junior. A combinação de aprovação alta, entrega de obras e estrutura capilar continua sendo a moeda forte de 2026. Em termos práticos, a decisão do governador — Curi como aposta principal? Greca como “coringa”? — reorganiza a corrida.

Se o PSD demorar a arbitrar o nome, Moro agradecerá: quanto mais tempo os governistas gastarem em primárias informais, mais consolidado ele fica. Se a escolha for precoce e disciplinada, com mobilização de prefeitos, deputados e secretariado, o jogo passa a ser uma disputa de dois polos (favorito x governista único). E aí os altos 30% de Moro deixam de ser placar para virar pressão.


O que fazer com “nenhum” e “não sabe”


Um traço transversal do levantamento é a dimensão do voto não posicionado. Em praticamente todos os cenários, o somatório de “nenhum” + “não sabe” fica entre 20% e 40%. Isso importa por dois motivos:

  1. Elasticidade real: Moro pode crescer? Pode. Curi/Greca podem encostar? Podem. Requião Filho pode surpreender sem Moro? Também. O volume de eleitores ainda disponíveis é alto.

  2. Qualidade da campanha: 2026 será uma eleição em que organização, porta a porta, micro-territórios e entrega de mensagem por segmento valem mais do que “viral” ou “carreatas”. Quem melhor converter o cinza (desalinhados/indecisos) vence.


Três cenários-guia a partir da Ágili


  1. Status quo prolongado: PSD posterga a definição; Moro mantém a dianteira nos altos 30%, abrindo com 10–15 p.p. sobre o segundo colocado. Risco: cristalização da ideia de “inevitável”.

  2. Unificação governista precoce: Ratinho arbitra: Curi (ou Greca) vira candidato único, ganha estrutura e narrativa de continuidade. Moro cai para ~32%, governista sobe para 20%+ e a corrida vira polo a polo.

  3. Dois governistas na pista: Curi e Greca insistem, cada um com seu cluster. Moro vence por dispersão, com 30-e-poucos e margem segura para o segundo turno — que tende a ser consumido por um governista.


Conclusão — liderança não é destino, é gestão do tempo


A Ágili não antecipa o vencedor. Ela expõe posições de largada e vetores de movimento. Moro larga à frente; Curi é quem mais pode crescer se o PSD fechar questão; Greca prova que é competitivo quando o cardápio muda. O fator Ratinho continua sendo a chave — não apenas por sua popularidade, mas pela capacidade de reduzir a entropia entre aliados.

O que define 2026 não é o placar de outubro de 2025, e sim quem transforma meses em método. Lideranças que entendem isso vencem antes do voto — porque organizam o campo, clareiam a narrativa e ocupam o espaço cinza que, nesta pesquisa, ainda é grande.


Fonte: Ágili Pesquisas. Levantamento estadual – Governo do Paraná (seis cenários). 1.509 entrevistas; 3–10 out. 2025; margem de erro ±3 p.p.; 95% de confiança. Números citados ao longo do texto referem-se ao material divulgado pela RIC.

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