Duas cadeiras, uma enxurrada de votos: como as novas pesquisas reorganizam a disputa ao Senado no Paraná em 2026
- René Santos Neto
- há 4 horas
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A mais recente fotografia eleitoral da Ágili e da Futura para o Senado em 2026 trouxe menos “surpresas” do que confirmações — e, justamente por isso, obriga os protagonistas a recalcular o roteiro. O dado central é claro: Deltan Dallagnol (Novo) lidera com folga o primeiro pelotão, enquanto a segunda vaga tende a ser disputada no fotochart por três perfis distintos: Cristina Graeml (União), Alexandre Curi (PSD) e Filipe Barros (PL). Em cenários alternativos, Ratinho Junior (PSD) e Álvaro Dias (Podemos) surgem como forças gravitacionais capazes de redesenhar o tabuleiro de saída. E tudo isso sob um guarda-chuva metodológico que ajuda a entender por que, embora o líder largue à frente, ninguém está eleito em outubro de 2025.
Comecemos pelos números. No Cenário 1 testado pela Ágili, Deltan aparece com 29,8%, seguido por Curi (18,1%), Cristina (17,2%) e Filipe Barros (16,4%); Zeca Dirceu (PT) fica em 12,1%, enquanto “nenhum” e “não sabe” somam 30,9%. No Cenário 2, quando o Novo troca Deltan por Jeffrey Chiquini, o bloco da vice-liderança se embaralha: Filipe (19,4%), Curi (19,2%) e Cristina (18,6%) aparecem praticamente empatados, “nenhum” e “não sabe” sobem para 36,8%. A amostra: 1.509 entrevistas, 3 a 10/out, 95% de confiança, ±3 p.p. — e lembre: o Paraná elegerá duas cadeiras.
Em paralelo, um levantamento da Futura (telefone assistido, 800 entrevistas, 8 a 10/out, ±3,5 p.p.) reforça um ponto político crucial: quando testado, Ratinho Jr lidera cenários com ampla vantagem, e Álvaro Dias volta ao topo quando o governador está fora — sinal de que há um reservatório de votos de “memória longa” disposto a prestigiar nomes com alto reconhecimento.
A partir desse mosaico, três blocos analíticos se impõem: a força e as fragilidades do favorito; a briga de foice pela segunda vaga; e o “fator-asteroide” que atende por Ratinho Junior.
Deltan: a dianteira é real — e testada
A liderança de Deltan não é um soluço estatístico; é consistente em diferentes veículos que replicam os dados centrais da Ágili. Em linguagem de campanha, isso significa agenda propositiva, controle de danos e consolidação territorial. Em números, 29,8% com quatro adversários competitivos no retrovisor indicam liderança folgada, mas não isolada: a depender de quem avance pela direita/centro-direita, parte desse eleitor pode “votar para garantir” a segunda cadeira.
Fortalezas. Deltan combina alto recall com um nicho ideológico definido (lavajatismo/anticorrupção) e uma máquina digital capaz de manter a narrativa em evidência. Em disputa de duas vagas, essa marca tende a reter voto fiel até fases tardias da campanha. Fragilidades. Dois vetores pedem atenção: (a) rejeição reativa em segmentos moderados e no eleitorado estadual mais “pragmático”, que pode preferir perfis de “gestão” ou “conexão com o governo estadual”; (b) concorrência por vizinhança: se Filipe Barros ou Cristina atravessarem o teto dos 20%, disputam o mesmo campo ideológico, elevando o custo de cada voto marginal.
Tática recomendada. Em cenários estáveis, favoritos perdem quando gastam energia batendo lateralmente; eles vencem quando bloqueiam a migração de seus eleitores para “segunda preferência” no fim. Para Deltan, isso implica: amarrar apoios na RMC e no Norte/Noroeste, modular o discurso para além do tema anticorrupção (desenvolvimento regional, infraestrutura, segurança), e evitar dilemas binários que empurrem moderados para um segundo nome do campo governista.
A segunda cadeira: Cristina, Curi e Filipe no mesmo degrau
A Ágili nos entrega o desenho mais importante da “segunda vaga”: há um bloco tecnicamente empatado. No Cenário 1, Curi (18,1%), Cristina (17,2%) e Filipe (16,4%) correm juntos; no Cenário 2, com Deltan fora do cartão, Filipe (19,4%), Curi (19,2%) e Cristina (18,6%) continuam colados. Para qualquer um dos três, a campanha se decide no método, não no meme.
Cristina Graeml exibe um ativo raro: competitividade urbana com trânsito na base conservadora — e presença orgânica no ecossistema digital. Se estruturar capilaridade fora de Curitiba/RMC e reduzir rejeição em segmentos femininos e de baixa renda (via pauta de segurança/defesa do consumidor/saúde), tem caminho aberto para um sprint final. O risco: “teto curto” caso a disputa se polarize entre um governista com máquina e um bolsonarista “raiz” (Filipe), drenando sua margem de crescimento. Antídoto: construir transversalidade com eixos de “vida real” (emprego local, tarifas, combate a privilégios) e coalizões municipais — vereadores e prefeitos de cidades médias ampliam voto útil na reta final.
Filipe Barros é o candidato do PL com mais densidade estadual hoje. Seus 19,4% no cenário sem Deltan mostram capacidade de hegemonizar a “segunda preferência” do campo bolsonarista quando o Novo não ocupa a prateleira. O desafio é crescer sem canibalizar a base necessária para eleger dois nomes do mesmo campo (por exemplo, ele próprio e Deltan). Isso exige segmentação territorial (Oeste/Norte) e agenda propositiva para além do embate nacional — infraestrutura logística, agro e segurança. Erro a evitar: apostar tudo no conflito “Brasília x Curitiba” e negligenciar prefeitos — quem abre a urna no interior não é o tweet, é o palanque local.
Alexandre Curi, por sua vez, traz o carimbo do PSD e a ponte com o governo Ratinho Jr. Aparece sempre no topo do segundo bloco, e, diferentemente de Cristina e Filipe, seu crescimento não colide frontalmente com Deltan — pode, inclusive, compor voto útil de quem quer “um lavajatista” e “um governista” nas duas cadeiras. Essa engenharia política é poderosa num estado com prefeitos alinhados ao Executivo e boa avaliação governista. Risco: o perfil “gestor” não decola sozinho; precisa de narrativa (resultados entregues + agenda regional clara) e decisão precoce do grupo governista para evitar dispersão entre nomes amigos.
Álvaro, o retorno possível — e o efeito Ratinho
Os números da Futura lembram que Álvaro Dias não é passado — é memória viva; quando testado sem Ratinho, lidera e acende uma lâmpada amarela nos comitês: há um voto nostálgico e conservador-moderado que pode reembarcar num “senador experiente” se não houver um governista unificado. Para Cristina e Filipe, isso significa não subestimar o eleitor sênior do Leste/Sul; para Curi, significa que o excesso de nomes governistas pode abrir a porta para Álvaro recuperar o lugar perdido em 2022.
E então chega o asteroide: Ratinho Junior. O cenário da Futura em que o governador é testado indica predominância — o suficiente para dizer, com segurança analítica, que se Ratinho optar pelo Senado, uma das duas vagas tende a ser sua, restando uma corrida de faca pela segunda. Ou, dito de outro modo: a presença de Ratinho reorganiza todo o campo governista e rebaixa a barra necessária para ser o “segundo eleito” — 22% a 25% podem bastar, a depender do número de competitivos na pista. Quem perde? Todos os que dependem do mesmo eleitorado governista sem musculatura própria; quem pode ganhar? Deltan, que não disputa o mesmo “primeiro voto” e tende a preservar a dianteira, reeditando a fórmula “um lavajatista + um governista” nas duas cadeiras.
Metodologia, tempo e o “voto 2”
Três notas técnicas com impacto político:
Duas cadeiras alteram o cálculo racional do eleitor. O paranaense pode equilibrar seu ticket: um nome “de causa” + um “de gestão”, ou um “nacional” + um “regional”. É por isso que Deltan se mantém à frente mesmo com concorrentes do mesmo campo — e é por isso que Curi/Greca (quando lembrados numa mesma linha de raciocínio) ganham musculatura nas qualitativas.
“Nenhum/NS” no teto dos 30% é vetor de volatilidade. A Ágili aponta 24% a 30% de eleitores fora do jogo nos cenários; é massa moldável por estrutura (prefeitos) e narrativa positiva — e não por escândalo ou lacração digital.
Margens e modos de coleta importam. A Ágili (presencial/mista conforme divulgação) e a Futura (telefone assistido) têm arquiteturas distintas, mas convergentes no essencial: Deltan na frente; segunda vaga aberta; Ratinho/Álvaro alteram o pódio quando entram. O bom analista não caça “contradições”; ele lê tendências consistentes.
Roteiros de vitória (e derrota) para cada nome
Deltan Dallagnol: manter 28–32% até julho de 2026, amarrar alianças municipais, ampliar discurso para “economia de gente” (empreendedor, agro familiar, segurança), e não entrar em guerras laterais que só elevam a segunda colocação do adversário mais próximo. Derrota se: virar alvo preferencial de dois competidores do mesmo campo e perder voto útil no final para “barrar X”.
Cristina Graeml: consolidar 18–22%, pivotando do público metropolitano para cidades médias com uma pauta de bolso (conta de luz, pedágio, segurança de bairro) e rede de mandatários locais. Derrota se: ficar presa em Curitiba/rede social e não converter voto feminino/popular.
Filipe Barros: hegemonizar o PL no interior, ampliar predominância nas regiões Oeste e Norte, virar o “voto 2” de quem já escolheu Deltan. Derrota se: brigar pelo mesmo “voto 1” de Deltan, desperdiçando energia e baixando ambos — enquanto um governista passa por fora.
Alexandre Curi: precisa da decisão do PSD. Se vier com palanque unificado do governo, sobe rápido a 20%+. Derrota se: disputa interna prolongar indefinição e dividir prefeitos; sem unificação, vira o terceiro forte que chega curto.
Álvaro Dias: tem janela se o quadro não unificar um governista competitivo. Derrota se: PSD fecha com Curi (ou outro) cedo e ocupam o “voto de gestão”.
Ratinho Junior: se entrar, fica com uma cadeira e rebaixa a barra da segunda. Se não entrar, seu endorsement disciplinado decide quem herda a vaga governista — e reduz as chances de Álvaro e de qualquer outro “solo runner”.
Conclusão: quem entender a aritmética do “voto 2” leva
A corrida ao Senado no Paraná não será decidida por um escândalo, uma frase de efeito ou um debate televisivo. Será decidida por engenharia de preferências em um sistema de duas cadeiras, no qual o eleitor monta a própria coalizão. Hoje, Deltan é o Voto 1 de um grande bloco — e parte com vantagem real. A segunda vaga é outra história: está aberta, competitiva e dependente de quem provar que entrega algo diferente do líder sem atacar quem o escolheu.
Se Ratinho Junior disputar, uma vaga se fecha e o jogo vira o round da sobrevivência. Se não, seu palanque e sua caneta política continuam sendo os ativos mais valiosos dessa eleição — capazes de converter potencial em voto e voto em cadeira. Até lá, a lição é simples: quem tratar o “voto 2” como prioridade estratégica pode acordar eleito em outubro de 2026 — mesmo sem nunca ter liderado as manchetes.
Referências:
Contraponto. Dallagnol lidera pesquisa para o Senado no Paraná [Internet]. 2025
RIC.com.br. Deltan Dallagnol (Novo) lidera pesquisa para o Senado no Paraná [Internet]. 2025
RIC.com.br. Ratinho Jr e Álvaro Dias lideram nova pesquisa ao Senado em 2026 [Internet]. 2025
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