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Moro mantém a dianteira; a sucessão de Ratinho entra em modo risco

  • Foto do escritor: René Santos Neto
    René Santos Neto
  • há 16 minutos
  • 6 min de leitura
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A rodada estadual de novembro do Instituto Paraná Pesquisas trouxe duas mensagens de largo alcance. Primeiro: Sérgio Moro segue líder com folga em todos os arranjos testados para o Governo do Paraná em 2026, sustentando vantagem expressiva no primeiro turno e margens confortáveis no segundo. Segundo: a inde­cisão de Ratinho Junior sobre quem abençoar — e, sobretudo, a hipótese de forçar uma candidatura de Guto Silva contra a preferência difusa do seu próprio eleitorado — pode rachar a base e, paradoxalmente, fortalecer o favorito (Moro), hoje já associado por parcela relevante do eleitorado à “continuidade” do atual ciclo. Tudo isso sob uma moldura robusta de dados: 1.508 entrevistas presenciais em 65 municípios, entre 7 e 11 de novembro, margem de erro de 2,6 p.p. e amostragem em três estágios (PPT + cotas), com auditoria mínima de 20% das entrevistas.


O placar que importa: liderança folgada na largada, vantagem no sprint


No Cenário 1 (Moro x Requião Filho x Guto), Moro aparece com 47,5%, contra 28,8% de Requião e 7,8% de Guto — um desenho de competição assimétrica, em que o senador opera próximo ao teto de vitória em primeiro turno. No Cenário 2, substituindo Guto por Alexandre Curi, Moro mantém 44,2%, Requião 27,5% e Curi 13,8%; ou seja, Curi agrega mais voto que Guto, mas ainda insuficiente para representar ameaça real ao líder. No Cenário 3, com Rafael Greca no lugar de Curi, Moro marca 42,8%, Greca 21,5% e Requião 22,7%, um equilíbrio entre os dois segundos colocados que não trinca a dianteira de Moro.

Quando a fotografia migra para segundo turno, a vantagem de Moro permanece confortável:

  • Moro 61,9% x 18,3% Guto,

  • Moro 57,6% x 26,0% Curi,

  • Moro 51,9% x 33,9% Greca,

  • Moro 53,9% x 33,8% Requião.

    É difícil conceber narrativa mais clara: o favorito não depende da fragmentação adversária — vence mesmo quando a base governista se unifica em torno de nomes mais competitivos. Comparando tendência com a rodada de outubro (não exibida aqui, mas tomada como referência pelo histórico recente), a mensagem é de manutenção: se houve oscilações, foram marginais e não alteraram a hierarquia — Moro permanece no primeiro lugar por distância visível. Em eleições estaduais, “estabilidade na frente” costuma valer ouro: naturaliza a liderança e induz parte do voto útil a migrar cedo para o polo percebido como vencedor.


O “fantasma” Ratinho e o impulso de aprovação


A pesquisa simultaneamente mede a avaliação do governo Ratinho Junior e ajuda a explicar o pano de fundo do favoritismo de Moro. Aprovação geral de 84,3% ao governo e 74% de ótimo + bom criam um ambiente de continuidade bem avaliada — em regra, combustível para o candidato governista. Não à toa, na espontânea para governador, quando o eleitor responde sem cartão de nomes, Ratinho aparece citado (10,1%) — um “sinal de sombra”: o eleitor ainda associa 2026 à liderança vigente, mesmo que o governador não esteja, de fato, no jogo.

Esse “lastro de governo” também se expressa nas perguntas de herança: “quem é melhor para continuar o trabalho de Ratinho” e “quem merece o apoio de Ratinho”. Em ambas, o resultado é contraintuitivo e politicamente explosivo: Moro lidera com folga (41,7% “melhor para continuar”; 38,3% “merece o apoio”), Greca vem em segundo (23,6% e 25,9%), Curi em terceiro (14,0% e 15,2%) e Guto em quarto (6,2% e 6,7%).

Tradução: o eleitor não enxerga a continuidade de Ratinho num nome “do Palácio”, mas sim no favorito da corrida. É uma aderência simbólica rara: Moro veste, aos olhos do público, a camisa de continuidade. Isso explica parte da resiliência do senador mesmo em cenários onde o governo estadual é bem avaliado — e acende uma luz amarela para qualquer tentativa de “escolhido” que não esteja orgânico no imaginário do eleitorado.


A armadilha Guto x Curi/Greca: o risco real de rachar a base


Se a prioridade do grupo governista for conteúdo de continuidade com competitividade, os números sugerem que Curi/Greca têm muito mais tração que Guto entre eleitores que hoje aprovam Ratinho — ainda que nenhum deles, isoladamente, seja capaz de ultrapassar Moro por ora. Greca disputa a vice-liderança com Requião quando entra no cartão; Curi é o nome que mais cresce em relação a Guto, mas ainda distante do líder. Em contraste, Guto apresenta o pior desempenho entre os governistas tanto no primeiro turno quanto na percepção de “herdeiro” ou “merecedor do apoio”.

Daí decorre o ponto estratégico: insistir em Guto como cabeça de chapa — com Ratinho indeciso e a base dividida — abre uma avenida para Moro ampliar a vantagem já confortável e, pior, reconfigura a identidade da “continuidade”: a marca Ratinho passa a transferir capital não para um “governista clássico”, mas para o favorito (Moro), que o eleitor já associa à estabilidade do ciclo.

Em redação de campanha: o custo de oportunidade de uma escolha pouco aderente é a “doação” simbólica da continuidade ao adversário.


O fator “Curi/Greca”: o que há — e o que falta


Os dados indicam que Curi e Greca são hipóteses mais racionais para reduzir a lacuna frente a Moro. Com Curi, o líder cai para 44,2% (vs. 47,5% com Guto), e o deputado apresenta dois ativos: capilaridade parlamentar e perfil de gestor político, que conversa com o eleitor mediano de um estado municipalista. Com Greca, Moro mantém 42,8%, e o ex-prefeito, mesmo fora do cargo, retém recall e identidade de entrega — sobretudo na capital e entorno —, o que ajuda a fixar a ideia de herança de serviços.

O problema é que nenhum dos dois, isoladamente, fecha o gap. E como o segundo turno mostra Moro vencendo ambos com 20 a 30 pontos de frente, a pergunta central do governismo não é “quem gosta de quem no Palácio”, e sim: qual arranjo minimiza a perda de capital de Ratinho e maximiza a retenção do voto continuidade? A pesquisa fornece uma pista: unificar cedo (para transformar aprovação em intenção) e mobilizar o selo Ratinho, sem afastar o eleitor que hoje associa “manter o que funciona” ao favorito.


Outubro x Novembro: manutenção do líder e cristalização de cenários


A comparação com outubro reforça que não há ruptura; há cristalização. Moro permanece líder em todos os cenários, e a aprovação de Ratinho segue elevadíssima, alimentando o desejo de continuidade — que, por sua vez, não está ancorada em um nome específico da base, mas pulou para o polo mais competitivo (Moro). Para a coalizão governista, isso significa duas tarefas simultâneas e sequenciais:

  1. Resolver a candidatura (Curi/Greca) antes que a “marca continuidade” se consolide de vez no adversário;

  2. Acomodar os perdedores internos do campo governista para evitar sangria em direção ao favorito.


O elemento que pode virar o jogo para qualquer lado


Há uma fresta estratégica que poucos olham: o tamanho do “regular” na avaliação de Ratinho (18%). Esse segmento costuma aderir ao “melhor gestor disponível” na reta final, desde que não se sinta traído pela liderança que aprova. Se a base governista se unifica em torno de um perfil com narrativa de entrega (Curi ou Greca), o “regular” tende a aceitar a troca de guarda. Se a base racha e Guto é imposto, parte desse “regular” pode migrar de forma pragmática para o favorito que “garante estabilidade” — Moro. É a diferença entre transferir e desviar o capital de governo.


O que fazer — e o que evitar — a partir de agora


Para o governismo:

  • Escolher logo entre Curi e Greca e operar unidade real (não protocolar), com discurso de entregas verificáveis e aliança ampla;

  • Rebater a associação “Moro = continuidade” ocupando a vitrine de herança concreta (programas, obras, metas) com o selo Ratinho;

  • Evitar a “solução de gabinete”: empurrar Guto sem lastro popular custará a bandeira da continuidade e dará a Moro a moldura do “seguidor natural” de um ciclo aprovado.

Para a oposição liderada por Moro:

  • Manter a campanha em modo managerial, sem guerra de trincheira — eleitor de governo satisfeito topa votar no favorito se perceber segurança na troca;

  • Nacionalizar temas de serviço (segurança, saúde, estrada, digitalização), ancorando-os no legado do próprio Senado e em articulações federativas;

  • Explorar o desconforto governista apenas até o ponto em que não produza vitimização do adversário — o que decide a eleição é o voto de continuidade pragmática, e este prefere moderação com eficiência.


Conclusão — A liderança é de Moro; a responsabilidade é da base


A pesquisa de novembro mostra Moro jogando com o placar a favor e Ratinho com a bola do jogo nas mãos. Se a base governista desperdiçar tempo e impor um nome pouco aderente ao que o eleitor reconhece como continuidade, Moro colherá a conjunção perfeita: aprovação alta do ciclo + identidade de herdeiro funcional + liderança consolidada. Se, ao contrário, Ratinho arbitrar com rapidez e racionalidade (Curi/Greca), devolve-se parte da “marca continuidade” a quem a construiu e reabre-se o jogo para uma disputa competitiva — ainda difícil, mas plausível.

Em xadrez eleitoral, quem está na frente administra; quem está atrás precisa acertar de primeira. Novembro confirmou o primeiro enunciado. Outubro já havia sinalizado o segundo. O relógio agora não mede meses; conta coesão. E coesão, como mostram os números, não se decreta — se constrói.

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