Lula em empate técnico de humor, país com apetite por mudança — e a janela nacional de Ratinho Junior
- René Santos Neto
- há 7 horas
- 6 min de leitura

A nova rodada nacional do Instituto Paraná Pesquisas não antecipa vencedores para 2026 — mas ilumina com clareza o mercado eleitoral no qual um nome como Ratinho Junior pode crescer. Ao medir a avaliação do governo Lula e o perfil desejado de presidente, o estudo revela um Brasil partido em dois blocos de humor e, ao mesmo tempo, majoritariamente disposto a mudar a forma de governar. Esse duplo movimento — divisão de avaliação e convergência por mudança — abre espaço para um projeto de “gestão com resultados” que seja capaz de reduzir rejeições e ampliar pontes regionais. É exatamente aí que mora a competitividade do governador do Paraná.
Comecemos pelos fundamentos. A pesquisa ouviu 2.020 eleitores, em 26 estados e no DF, entre 21 e 24 de outubro de 2025, com margem de erro de 2,2 p.p. e 95% de confiança, amostra em três estágios e auditoria mínima de 20% das entrevistas — parâmetros robustos para leitura de tendências nacionais e de nuances regionais.
O retrato do humor nacional: equilíbrio tenso
Nos indicadores de avaliação, o quadro é de equilíbrio tenso: 47,9% aprovam a administração Lula e 49,2% desaprovam (2,9% não opinaram). A série histórica mostra reação recente da aprovação após meses em patamar mais baixo, mas não o suficiente para romper a simetria com a desaprovação. É um país sem consenso sobre o governo vigente, o que reforça a demanda por candidatos capazes de falar com “os dois Brasis” — sem converter a eleição em um plebiscito puro de governo versus oposição.
A geografia do humor confirma essa clivagem: Nordeste concentra maior aprovação a Lula; Sul reúne a maior desaprovação; Sudeste fica no meio, porém com leve viés crítico. Entre evangélicos, a desaprovação é marcante; entre católicos, o saldo é mais equilibrado. A pesquisa estratifica ainda por faixa etária e escolaridade, com aprovação mais alta nas camadas de menor escolaridade e maior crítica entre escolaridade média/alta — contornos úteis para qualquer campanha que pretenda calibrar narrativa e território.
O que o país deseja do próximo presidente: mudança, mas com régua
Quando o instituto pergunta “que tipo de presidente você quer?”, o recado é didático: 28,9% querem mudar totalmente a forma de governar; 29,0% querem mudar bastante; 23,0% preferem poucas mudanças; e apenas 17,1% desejam continuidade. Em outras palavras, 57,9% do país demandam mudança forte — porém isso não significa, necessariamente, desejo de ruptura sem plano. A leitura razoável é que há um apetite por novas práticas aliado à aversão ao salto no escuro.
Essa combinação — mudança com método — é o terreno natural para candidaturas que se apresentem como solução de gestão, com metas auditáveis e baixa taxa de conflito. É o caso de Ratinho Junior, cuja marca no Paraná se apoia em infraestrutura, articulação com prefeitos, digitalização de serviços e entrega — um repertório que dialoga com o eleitor que quer “mexer muito” sem “quebrar tudo”.
Por que Ratinho Junior é competitivo nesse ecossistema
Três vetores da pesquisa favorecem um perfil como o de Ratinho:
Ambiente pró-gestão: em temas sensíveis para o cotidiano — segurança pública, serviços, renda — a base do eleitor se move menos por ideologia e mais por capacidade de resolver. A fotografia nacional do Paraná Pesquisas (com o país dividido na avaliação do governo e majoritariamente pró-mudança) premia a oferta de “gestão testada” em detrimento da retórica de trincheira.
Janelas regionais claras: o Sul, onde o governador é mais conhecido, é também o estrato mais crítico ao governo federal e o mais inclinado a mudança ampla. No Sudeste interiorano e no Centro-Oeste, perfis de conservadorismo de políticas públicas (foco em produtividade, logística, agro, segurança e serviços) tendem a performar. O ponto de atenção é o Nordeste, mais benevolente com Lula; ali, uma candidatura de “gestão” precisa oferecer agenda social mensurável (atenção primária, ensino técnico, políticas de transição para emprego) e parcerias locais.
Fator novidade com currículo: o estudo não mede rejeição nominal de pré-candidatos, mas, ao expor o empate de humores e o apetite por mudança, sugere que candidatos menos saturados nacionalmente podem crescer quando apresentarem plano e equipe. Ratinho carrega a vantagem de não ser rosto de desgaste federal e, ao mesmo tempo, exibir entregas estaduais.
Onde estão os limites — e como superá-los
Toda competitividade tem contrapesos. Para transbordar do Sul ao mapa inteiro, Ratinho precisará traduzir seus acertos estaduais em um projeto de país:
Segurança com metas nacionais: o eleitor quer números (homicídios, roubos, organizações criminosas) e método federativo (integração União–Estados–municípios). “Dar certo no Paraná” precisa virar plano de escala — tecnologia, inteligência, fronteiras, sistema prisional e prevenção.
Economia do cotidiano: a pesquisa mostra um Brasil que não está eufórico — e que penaliza discursos macroeconômicos desconectados do custo de vida, emprego local e crédito para pequenos. Uma candidatura viável terá de falar inflação de gente, desburocratização e qualificação profissional — com entregas verificáveis.
Ponte com evangélicos sem refém de costumes: o recorte religioso indica desaprovação mais alta ao governo entre evangélicos. Ao mesmo tempo, parte desse público quer serviços, segurança e liberdade econômica mais do que guerra cultural diária. Valores + serviços é uma síntese possível — e necessária — para escalar fora da bolha.
Como a pesquisa pode ajudar sua candidatura a crescer
Mais do que um “termômetro”, a Paraná Pesquisas oferece roteiros operacionais para a campanha de um gestor:
Segmentação por apetite de mudança. Se 57,9% pedem mudança forte, o discurso deve nominar práticas a serem trocadas (ineficiência, burocracia, privilégios) e substitutos claros (contratos por desempenho, metas de serviço, digitalização obrigatória). Em cada região, um “pacote de 100 dias” que seja comunicável em três frases.
Priorização territorial. Use os estratos regionais da pesquisa para ordenar investidas: Sul e Centro-Oeste para lastrear base; Sudeste interiorano para escala de voto; Nordeste para pontes com governadores e prefeitos que sustentem agenda social com métrica. O dado de campo (162 municípios) autoriza modelagem fina de rota.
Narrativa de “mudança responsável”. A mesma base que rejeita “continuísmo” rejeita aventureirismo. O estudo indica espaço para lideranças que prometam trocar práticas, não romper a institucionalidade. O contraste não é “paz x guerra”, e sim “serviço entregue x retórica vazia”.
Provas de conceito nacionais. Transformar dois ou três programas paranaenses em pilotos federais (por exemplo, uma rede de serviços digitais essenciais, um pacto interestadual de segurança e um plano nacional de qualificação vinculada ao emprego) e apresentá-los com metas e cronograma. Métrica pública é a linguagem que atrai o eleitor de “mudança com régua”.
E o que isso faz com o tabuleiro do Paraná
Nacionalizar Ratinho reorganiza o jogo estadual de 2026. A mesma pesquisa que o legitima como player nacional também pressiona sua base a arbitrar cedo um nome para a sucessão no Palácio Iguaçu. Quanto mais rápida e disciplinada a escolha (Curi? outro quadro do PSD?), maior a chance de o grupo transformar “mudança responsável” em marca estadual — e de evitar primárias informais que só ajudam adversários. Em paralelo, Senado e Câmara tendem a sentir efeitos de coattail de uma candidatura presidencial competitiva: um palanque unido baixa o custo do voto marginal para aliados e eleva a régua de quem se opõe.
Conclusão: dados que viram mapa
A fotografia do Paraná Pesquisas é, no fundo, um mapa de oportunidades:
Um país dividido na avaliação do governo, porém unido no desejo de mudar;
Um eleitor alérgico a aventuras, porém impaciente com a ineficiência;
Um ambiente que recompensa gestores com plano e pune slogans.
Ratinho Junior tem produto (entregas), timing (apetite por mudança) e ponte (capilaridade municipal) para transformar competitividade em viabilidade. O que separa um rascunho de candidatura de um projeto vencedor é a tradução dos acertos do Paraná em metas nacionais auditáveis — e a disciplina para manter a campanha no eixo do serviço, não da espuma. Se o fizer, a pesquisa de hoje terá sido lembrada não como um gráfico, mas como a página onde começou a escalada nacional de um gestor — e a reorganização, por tabela, do jogo político no seu estado.
Fonte: Instituto Paraná Pesquisas. Pesquisa Nacional – Avaliação do Governo Federal e Perfil Desejado do Próximo Presidente (2.020 entrevistas presenciais; 21–24 out. 2025; MOE 2,2 p.p.; 95% de confiança).
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