Lula estaciona, Ratinho cresce nas bordas: o que a Paraná Pesquisas de novembro diz sobre 2026
- René Santos Neto
- há 4 dias
- 7 min de leitura

A nova pesquisa nacional do Instituto Paraná Pesquisas, de novembro de 2025, não virou o tabuleiro de 2026 — mas deixou muito claro quem está ganhando espaço na mesa. De um lado, Lula mantém uma aprovação estável, porém cercada, e segue liderando o primeiro turno em todos os cenários testados. De outro, o governador Ratinho Junior aparece discretamente, mas com um movimento consistente de crescimento, especialmente no Sul. Em meio a um país dividido e preocupado com segurança pública, esse conjunto de dados ajuda a entender por que o paranaense passou de “nome ventilado” a ativo real no xadrez presidencial.
A pesquisa ouviu 2.020 eleitores, em 26 estados e no Distrito Federal, entre 6 e 10 de novembro de 2025, com margem de erro de 2,2 p.p. e 95% de confiança. A amostragem é robusta: sorteio probabilístico de municípios e localidades (PPT) e quotas por gênero, idade, escolaridade e nível econômico, com auditoria de pelo menos 20% dos questionários. É a mesma espinha metodológica usada pela Paraná Pesquisas ao longo da série de 2023 a 2025 — o que permite comparar novembro com o levantamento de outubro sem medo de estar confrontando universos diferentes.
Lula: aprovação contida, liderança vulnerável
No bloco de avaliação do governo, Lula não desaba, mas tampouco avança. Em novembro, 11,7% consideram sua administração “ótima”, 20,4% “boa” e 23,2% “regular”. Somando positivos, são 32,1%; negativos (“ruim”, 9,0%, e “péssima”, 34,3%) somam 43,3%. No indicador direto, 45,9% aprovam e 50,9% desaprovam o governo. Em outubro, a aprovação havia ficado em 47,9%, com 49,2% de desaprovação – ou seja, Lula perde cerca de 2 pontos de aprovação e volta a ficar mais claramente abaixo da linha dos 50%.
É um quadro de equilíbrio tenso: não há colapso de governo, mas há um teto visível. A série histórica confirma esse travamento: depois de uma fase de queda de aprovação no primeiro semestre de 2025, Lula havia ensaiado reação no meio do ano; agora, a curva volta a oscilar ligeiramente para baixo. A mensagem é simples: não existe clima de “reeleição inevitável”.
Quando a pergunta muda de avaliação para voto, a fotografia não é muito diferente. No Cenário 1 de primeiro turno (Lula, Jair Bolsonaro, Ciro Gomes, Ratinho Junior, Ronaldo Caiado e Romeu Zema), o petista marca 35,6%, contra 32,1% de Bolsonaro, 8,2% de Ciro e 6,9% de Ratinho. Em outubro, Lula tinha 37,0%, Bolsonaro 31,0%, Ciro 7,5% e Ratinho 6,0%. Ou seja: Lula cai 1,4 ponto, Bolsonaro sobe 1,1, Ciro cresce um pouco e Ratinho ganha quase 1 ponto. Nada de terremoto, mas um padrão se repete: Lula oscila para baixo, seus principais adversários e potenciais adversários oscilem para cima.
Nos cenários alternativos, o filme é parecido:
Com Flávio Bolsonaro no lugar de Jair (Cenário 2), Lula passa de 37,6% (out) para 36,3% (nov), enquanto Flávio se mantém em torno de 19%–20%. Ratinho sai de 9,6% para 10,5%.
Com Michelle Bolsonaro (Cenário 3), Lula cai de 37,3% para 36,0%, Michelle de 28,0% para 26,0%, e Ratinho segue na casa de 8%–8,5%, ligeiramente acima da série de agosto.
Com Tarcísio de Freitas (Cenário 4), Lula recua de 37,4% para 36,0%, Tarcísio sobe de 22,3% para 23,2% e Ratinho sobe de 8,1% para 9,0%.
Em todos os casos, Lula mantém a dianteira, mas sem romper a casa dos 40%; em todos os casos, candidatos do campo oposicionista avançam um pouco; e em quase todos, Ratinho cresce discretamente.
No segundo turno, a vulnerabilidade aparece de forma ainda mais nítida. No clássico Lula x Bolsonaro, o petista hoje tem 43,7% contra 43,1% de Jair, com 5,6% de “não sabe” e 7,6% de branco/nulo. Em outubro, Lula tinha 44,9% e Bolsonaro 41,6% – uma vantagem de mais de 3 pontos que encolheu para 0,6 ponto, dentro da margem de erro.
O recado é cruel para qualquer projeto de reeleição: Lula lidera, mas não sobra. E, num país majoritariamente insatisfeito com segurança pública e serviços essenciais, isso importa muito.
Segurança pública: o calcanhar exposto de Lula
Na pesquisa de outubro, a Paraná Pesquisas mostrou que quase metade dos brasileiros avaliava que a segurança pública havia piorado nos últimos meses, com um saldo claramente negativo para o governo federal na percepção de combate ao crime e à violência.
É importante conectar isso com duas camadas de dados de novembro:
A desaprovação majoritária da administração Lula (50,9%);
O fato de que, nos estratos regionais, a desaprovação é muito alta no Sul e significativa no Sudeste, regiões historicamente mais sensíveis a temas como crime organizado, furtos, roubos e sensação de insegurança.
Esse é exatamente o espaço onde candidatos com discurso de gestão de segurança e coordenação federativa podem crescer. É aqui que entra Ratinho Junior.
Ratinho Junior: pouco voto, muito potencial
À primeira vista, os números nacionais de Ratinho parecem modestos: 6,9% no Cenário 1, 10,5% no Cenário 2, 8,4% no Cenário 3, 9,0% no Cenário 4. Mas, em eleitoral, às vezes o mais importante não é o tamanho bruto, e sim onde esses votos estão e como eles se movimentam.
Duas coisas chamam atenção:
Ratinho cresce de outubro para novembro em quase todos os cenários relevantes: +0,9 p.p. em três deles, mantendo estabilidade no restante.
Quando olhamos por região, ele se transforma em player dominante no Sul sempre que está no cartão de candidatos.
No Cenário 1, por exemplo, no recorte Sul, Ratinho atinge 20,1% – atrás apenas de Bolsonaro (35,8%) e já à frente de Lula (25,9%) e de Ciro. No Cenário 2, também no Sul, ele salta para 28,7%, praticamente empatado com Flávio Bolsonaro (19,5%) e bem acima de Lula (25,9%). Nos Cenários 3 e 4, com Michelle e Tarcísio, Ratinho vira segunda força regional, com algo entre 24% e 26% dos votos no Sul, sempre acima da média nacional que o instituto lhe atribui.
Traduzindo do estatistiquês para a política:
Nacionalmente, Ratinho ainda é “terceira via de baixa intensidade”;
No Sul, ele já é um líder consolidado do campo de direita/centro-direita, capaz de concorrer de igual para igual com qualquer “herdeiro do bolsonarismo” colocado na mesma cartela.
Isso cria um cenário interessante: se o eleitorado conservador, especialmente no Sul e em partes do Sudeste, associar Lula à deterioração da segurança pública e perceber em Ratinho um gestor capaz de entregar resultados na área, o governador pode virar, em poucos meses, o candidato da “mudança segura”: alguém que critica o governo, mas fala menos em confronto ideológico e mais em polícia, coordenação, tecnologia e fronteira.
A ponte com outubro: tendência, não acidente
Comparar outubro e novembro mostra que não estamos diante de um soluço:
A aprovação de Lula recua de 47,9% para 45,9%;
Lula cai cerca de 1 ponto e meio em todos os cenários de primeiro turno;
Sua vantagem em segundo turno contra Bolsonaro praticamente desaparece;
Ratinho sobe cerca de 1 ponto em três dos quatro cenários com seu nome, mantendo-se estável no outro;
E segue como campeão regional no Sul sempre que está presente na cartela.
Somando à percepção negativa de segurança medida em outubro, o quadro é claro:
Lula está estabilizado em patamar competitivo, mas vulnerável; Ratinho está em movimento ascendente, com base regional forte e espaço para ser vendido como “antídoto de gestão” para problemas como violência e falta de serviços.
Como a pesquisa ajuda a construir a candidatura de Ratinho
A utilidade política dessa pesquisa para o governador do Paraná é direta:
Mapa territorial: Os números mostram onde Ratinho já é forte (Sul), onde é médio (Sudeste interiorano, Centro-Oeste), e onde precisa construir (Nordeste). É um roteiro pronto de prioridade de viagens, alianças com prefeitos, governadores e lideranças setoriais.
Narrativa central: “mudança com serviço”: Com mais de 50% do país desaprovando o governo e quase 60% querendo mudar bastante ou totalmente a forma de governar (como captado na rodada de outubro), a campanha tem um slogan de base: “trocar o método, não destruir o país”. Segurança entra aqui como vitrine: reduzir violência, melhorar polícia, coordenar União e estados.
Posicionamento no campo conservador: Os dados mostram que, em cenários com Flávio, Michelle ou Tarcísio, Ratinho não é coadjuvante; é segundo nome forte no Sul e terceira força nacional. Isso permite que ele se apresente como “síntese de gestão” em um campo acostumado a nomes muito identitários. Em vez de disputar quem grita mais, ele pode disputar quem entrega mais.
Conexão com o tema segurança: A percepção de piora na segurança pública — medida em outubro — é munição para uma campanha que prometa menos discurso e mais resultado: integração de bancos de dados, combate a facções, reforço de fronteiras, tecnologia, metas de redução de homicídios. Ratinho tem o trunfo de falar a partir da experiência de governo estadual, não apenas de um discurso abstrato.
Lula ainda manda no placar, mas não no clima
A Paraná Pesquisas de novembro entrega, em suma, três mensagens:
Lula ainda lidera o primeiro turno em todos os cenários, mas não rompe a casa dos 40% e enfrenta rebalanceamento desfavorável em cenários de segundo turno, especialmente contra Bolsonaro.
A percepção de governo está longe de ser catastrófica, mas não é confortável: aprovação abaixo de 50%, reprovação acima de 50%, histórico de piora na percepção de segurança e serviços.
Ratinho Junior cresce nas bordas, consolida-se como força regional muito forte no Sul e começa a ser visto como terceira via de gestão dentro do campo conservador, com potencial para capturar o eleitor que está cansado do conflito permanente e teme a combinação de economia fraca com insegurança alta.
Pesquisas não elegem presidentes. Mas certas pesquisas mostram para onde o vento está disposto a soprar. A de novembro indica que o eleitorado brasileiro não está em modo “reeleger sem pensar”, e que há espaço real para um projeto de mudança com régua — especialmente se esse projeto falar a sério de segurança pública, serviços e eficiência.
Se Ratinho Junior conseguir transformar seus números atuais em narrativa nacional e alianças concretas, a Paraná Pesquisas de novembro será lembrada como um desses momentos em que um nome deixa de ser apenas “citado” e passa a ser, de fato, contado na disputa presidencial de 2026.
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