
Com a proximidade do segundo turno das eleições municipais em Curitiba, as pesquisas eleitorais desempenham um papel crucial na formação da opinião pública e na definição de estratégias eleitorais dos candidatos. Diversos institutos estão em campo esta semana, cada um com suas próprias metodologias e abordagens. No entanto, entender as nuances técnicas e as limitações de cada pesquisa é essencial para interpretar corretamente os resultados e prever as influências nas campanhas de Eduardo Pimentel e Cristina Graeml.
Este artigo examina as principais pesquisas em campo, analisa suas fortalezas e fraquezas e identifica como os dados podem impactar o comportamento dos eleitores nas próximas semanas.
1. Fortalezas e Fraquezas das Metodologias
Cada instituto utiliza uma abordagem distinta para coletar e analisar os dados, o que afeta a precisão e confiabilidade das pesquisas.
Veritá
O Instituto Veritá está conduzindo uma pesquisa com 1.610 entrevistas realizadas de 13 a 17 de outubro de 2024. Sua metodologia é quantitativa, com amostra estratificada proporcional a variáveis como sexo, faixa etária, grau de instrução e nível econômico. Uma das principais fortalezas do Veritá é sua robusta amostra e a aplicação de questionários presenciais, o que tende a oferecer uma amostra representativa.
Entretanto, a pesquisa do Veritá tem algumas limitações. O custo elevado de R$ 63.917,00 levanta questões sobre viabilidade em larga escala, além de possíveis dificuldades logísticas para manter a representatividade amostral em áreas de difícil acesso ou mais periféricas. Há também o risco de bias de resposta, onde entrevistados podem distorcer suas respostas ao serem questionados em ambientes presenciais.
Quaest
O Instituto Quaest, por sua vez, está realizando uma pesquisa com 900 entrevistas, entre 16 e 18 de outubro de 2024, com metodologia de survey presencial domiciliar. A Quaest se destaca pelo uso de ponderação por algoritmos para garantir que o perfil dos respondentes seja ajustado em relação a sexo, idade, renda familiar e escolaridade. Isso garante uma forte aderência estatística e maior confiabilidade.
No entanto, a margem de erro de 3 pontos percentuais pode gerar flutuações nos resultados, especialmente em uma disputa tão acirrada. Além disso, o custo de R$ 87.300,00 é significativamente maior que o de outras pesquisas, tornando a abordagem economicamente menos acessível para uso recorrente.
IRG
A pesquisa da IRG envolve 900 entrevistas realizadas por telefone, entre 16 e 18 de outubro. A pesquisa telefônica tem a vantagem de ser mais rápida e menos custosa (R$ 10.000,00), além de cobrir uma ampla faixa demográfica. Contudo, esse método enfrenta desafios, como a exclusão involuntária de populações que não têm acesso a telefones fixos ou celulares regulares, o que pode distorcer a representatividade, especialmente em áreas mais vulneráveis ou com menor conectividade.
Além disso, pesquisas telefônicas muitas vezes geram uma taxa de não resposta maior, especialmente quando os eleitores desconfiam do propósito da chamada ou sentem que sua privacidade está em risco.
Radar Inteligência
A pesquisa da Radar Inteligência envolve 816 entrevistas, também realizadas presencialmente entre 16 e 18 de outubro de 2024. Seu método de coleta presencial permite maior interação com os entrevistados, potencialmente aumentando a qualidade das respostas. Além disso, seu custo de R$ 38.500,00 é relativamente moderado comparado a outras pesquisas presenciais.
No entanto, a margem de erro de 3,5 pontos percentuais é um fator crítico em uma eleição tão disputada, podendo diluir a percepção de uma vantagem clara entre os candidatos. Outra fragilidade é que entrevistas presenciais podem ser mais demoradas e suscetíveis a mudanças de última hora no campo.
AtlasIntel
Por fim, o AtlasIntel utiliza um modelo inovador de coleta online, com 1.200 entrevistas, realizadas de 15 a 20 de outubro de 2024. Sua abordagem digital reduz custos (R$ 35.000,00) e permite uma coleta de dados rápida e contínua, com algoritmos que ajustam a amostra em tempo real.
A fragilidade deste método está no viés de acesso à internet. Eleitores de baixa renda ou idosos podem não ser adequadamente representados, já que a conectividade digital não é equitativa entre todas as faixas demográficas. Embora a pós-estratificação seja útil, a disparidade digital pode distorcer os resultados, particularmente em uma cidade como Curitiba, onde há regiões com menores índices de inclusão digital.
2. Como os Resultados Devem Ser Interpretados
Em uma disputa equilibrada, como a que ocorre em Curitiba, é importante que os resultados das pesquisas sejam interpretados de forma crítica. A margem de erro em pesquisas como as da Quaest, IRG e Radar pode gerar variações nos resultados que, por sua vez, podem induzir a conclusões prematuras. Quando a diferença entre os candidatos é pequena, como parece ser o caso entre Eduardo Pimentel e Cristina Graeml, qualquer variação dentro da margem de erro pode significar uma falsa percepção de liderança.
Por outro lado, a disparidade nos métodos de coleta de dados entre entrevistas presenciais, telefônicas e online pode influenciar os resultados, já que cada abordagem atinge públicos distintos. Pesquisas presenciais, como as do Veritá e Quaest, podem captar melhor as nuances de bairros periféricos e de eleitores de baixa renda, enquanto as pesquisas telefônicas e online, como as da IRG e AtlasIntel, podem favorecer eleitores conectados ou de maior renda, que tendem a estar mais acessíveis nesses canais.
3. Impacto nas Decisões Eleitorais e Brechas nas Análises
A forma como os dados são interpretados pode influenciar diretamente o comportamento dos eleitores. Resultados que mostram um candidato à frente, mesmo que dentro da margem de erro, podem influenciar os eleitores indecisos a optar pelo chamado voto útil, mudando de um candidato sem chance de vitória para aquele que tem maiores probabilidades. Esse fenômeno é particularmente importante em eleições acirradas como a de Curitiba.
No entanto, é essencial considerar as possíveis brechas nos questionários e nas amostras dos institutos. Por exemplo, questionários que apresentam questões de forma tendenciosa ou incluem poucas opções podem induzir respostas desejadas. Pesquisas que não garantem inclusão digital, como as do AtlasIntel, podem deixar de fora segmentos significativos da população. Já os questionários do Veritá e Radar apresentam variações estruturais que podem influenciar o entendimento dos respondentes.
Conclusão: A Influência das Pesquisas e o Risco de Erro
À medida que nos aproximamos do segundo turno, a interpretação das pesquisas deve ser cuidadosa, levando em conta as fortalezas e fraquezas de cada metodologia. A compreensão dos dados, aliada à análise crítica de como os resultados são produzidos, pode evitar conclusões precipitadas e ajudar a prever melhor o resultado final.
Por fim, as disparidades de custos entre as pesquisas mostram que métodos mais sofisticados, como os utilizados pela Quaest, embora mais caros, podem oferecer maior precisão, enquanto pesquisas mais baratas, como as da IRG, podem ser acessíveis, mas com limitações significativas. A tecnologia digital, como a utilizada pelo AtlasIntel, surge como uma alternativa promissora, mas que ainda enfrenta desafios em termos de inclusão.
Referências das Pesquisas
Veritá: Pesquisa realizada entre 13 e 17 de outubro de 2024. Registro no TSE: PR-06395/2024.
Quaest: Pesquisa realizada entre 16 e 18 de outubro de 2024. Registro no TSE: PR-08766/2024.
IRG: Pesquisa realizada entre 16 e 18 de outubro de 2024. Registro no TSE: PR-07252/2024.
Radar Inteligência: Pesquisa realizada entre 16 e 18 de outubro de 2024. Registro no TSE: PR-09056/2024.
AtlasIntel: Pesquisa realizada entre 15 e 20 de outubro de 2024. Registro no TSE: PR-03050/2024.
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