Ricardo Barros: O Símbolo do Patrimonialismo em Estado Puro Quer Governar o Paraná com Moro
- Jorge Augusto Derviche Casagrande
- 2 de mai.
- 2 min de leitura
No folclore político brasileiro, poucos personagens encarnam com tanto zelo o espírito do centrão fisiológico e patrimonialista quanto Ricardo Barros. Deputado federal, ex-ministro, articulador de federações partidárias, mentor de dinastias familiares e, sobretudo, um camaleão ideológico em constante mutação. Deste coronel paranaense o único compromisso duradouro parece ser com o próprio poder e, claro, com as finanças de sua dinastia familiar.
Barros ocupou o comando do Ministério da Saúde no governo Dilma Rousseff, uma das pastas mais cobiçadas — e generosamente financiadas — da Esplanada. E mesmo após o impeachment, foi o único ministro mantido por Michel Temer, feito digno dos mais hábeis contorcionistas políticos. Poucos transitam com tamanha desenvoltura entre petistas, emedebistas e bolsonaristas. Coerência? Apenas com a "governabilidade" — de si mesmo.
Essa falta de caráter traduzida elegantemente como elasticidade ideológica se replica em casa: casado com Cida Borghetti, ex-governadora do Paraná, Barros comanda um clã político que atua como holding familiar, com tentáculos em diversas esferas do poder público. No estado do Paraná, seu sobrenome funciona como senha de acesso a cargos, verbas e influência.
Agora, em nova manobra, articula a fusão de Progressistas e União Brasil no Paraná, construindo um megabloco que mira 2026 como quem negocia concessões de pedágio. E, como cereja no bolo da incoerência estratégica, se lança em articulações com Sergio Moro — aquele mesmo a quem outrora acusava de ser justiceiro seletivo e algoz político. Onde antes havia ataques inflamados, agora há “diálogo republicano”. As voltas que o poder dá.
Difícil mesmo é suportar Ricardo Barros discursando com aquele tom morno de centrão gourmet, dizendo que a polarização é o grande mal da política — como se ele, expoente-mor do fisiologismo, fosse a solução. Ora, foi justamente o centrão que normalizou a barganha, apodreceu o sistema e pariu os escândalos que depois explodiram em polarização e instabilidade. Barros se apresenta como bombeiro, mas há décadas carrega o galão de gasolina, sempre para o próprio lucro. A quem ele acha que engana?
Ricardo Barros é, em essência, um espelho da velha e retrógrada política que resiste a qualquer tentativa de renovação. Seu modelo de atuação é conhecido: gabinetes silenciosos, acertos à meia-luz, acordos de conveniência e um discurso moldado conforme a direção do vento. É o Brasil da estabilidade institucional baseada em instabilidade ética.
Enquanto o país clama por reformas profundas e verdadeira responsabilidade pública, Barros representa o exato oposto: a perpetuação do que já deveria ter sido superado. Mais do que um político, é um sintoma — e talvez, um alerta.
Porque, no fim, o centrão não tem lado. Tem orçamento. E Ricardo Barros é seu mais fiel intérprete — pronto para governar com quem estiver disponível. Desde que reste algo a ser loteado.
E onde entra Sergio Moro nisso? Simples: ao se aliar com Ricardo Barros, Moro nos revela, enfim, quem realmente é. Afinal, diga-me com quem andas — e direi quem és.

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