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Bombardeiros, Tarifas e Barganhas: A Guerra das Superpotências sob a ótica de “A Arte da Negociação”

  • Foto do escritor: René Santos Neto
    René Santos Neto
  • 7 de abr.
  • 6 min de leitura



Em A Arte da Negociação, Donald Trump apresenta ao leitor não apenas um manual de técnicas de barganha, mas um verdadeiro manifesto estratégico que, lido à luz da conjuntura internacional recente, revela-se um esboço do que viria a ser sua política externa e econômica enquanto presidente dos Estados Unidos. O ensaio geopolítico “A Guerra das Superpotências: Bombardeiros e Tarifas”, assinado por Topaz Ram, articula uma visão do mundo pós-globalista, marcado por conflitos econômicos, colapsos institucionais e reposicionamentos civilizacionais. A interseção entre o livro e o ensaio reside na lógica de poder — uma lógica que abandona o sentimentalismo liberal e coloca, no centro da ação política, a negociação estratégica como instrumento de sobrevivência e domínio.



1. A negociação como guerra: tarifas como “bombardeiros econômicos”



Trump declara em seu livro: “Negociar é um jogo. Um jogo muito sério. Você não joga só para competir – você joga para ganhar.” Ao tratar as tarifas como armas geoestratégicas — “bombardeiros econômicos” — Topaz Ram ecoa essa filosofia. A imposição de tarifas à China e à Europa não pode ser compreendida apenas como uma política econômica protecionista, mas como um movimento militar em campo de batalha invisível: o tabuleiro do comércio global.


Na lógica trumpista, tarifas não são punições morais, mas ferramentas de barganha. Ao impor tarifas à Europa, Trump cria um estado de incerteza e pressão que força os aliados históricos dos EUA a reconsiderarem sua posição em relação à China, Rússia e ao próprio conceito de soberania industrial. É a clássica técnica de criar tensão para provocar concessões, descrita por Trump como uma das mais eficazes ferramentas em qualquer negociação.



2. Rejeição às métricas convencionais: custo de vida, bolsas e a “ilusão econômica”



Em vários trechos de A Arte da Negociação, Trump critica a dependência de métricas tecnocráticas para medir o sucesso. Ele prefere o “feeling”, a leitura instintiva da realidade e, sobretudo, os resultados concretos. Da mesma forma, Ram rejeita as análises centradas em custo de vida e no comportamento das bolsas de valores. Para ambos, esses são indicadores ilusórios, que encobrem o que de fato importa: quem produz, quem controla e quem pode resistir a um colapso sistêmico.


A crítica à economia como um “blefe” é compartilhada por Trump em seu livro. Ele aponta que muitos negócios e impérios são sustentados por narrativas, não por fundamentos. O que Ram faz é estender essa tese para a macroeconomia e para as relações internacionais: EUA e Europa estão dançando sobre gelo fino, e apenas os que se adaptarem ao novo jogo — o da força, da produção e do poder real — sobreviverão.



3. Negociar com força: o papel do medo e da imprevisibilidade



Trump afirma: “A chave da negociação é ser imprevisível.” Essa é uma de suas máximas e está diretamente conectada à sua estratégia de lidar com nações rivais — e até mesmo com aliados. O ensaio de Ram mostra que o mundo sob Trump é um ambiente onde imprevisibilidade não é fraqueza, mas escudo. Assim como a colocação de bombardeiros reais sobre o Irã cria um estado de alerta, a imprevisibilidade tarifária coloca a Europa em constante recalibragem de sua política industrial.


Ao contrário do ideal liberal de previsibilidade e regras universais, a arte trumpista da negociação favorece o caos como forma de gerar vantagem. E, nesse sentido, o mundo descrito por Ram já se move dentro desse novo paradigma: um espaço onde as certezas da ordem pós-guerra fria ruíram e o poder se exerce pela disrupção.



4. Alianças são temporárias: realismo político e cálculo estratégico



Um dos pontos mais importantes de A Arte da Negociação é a recusa de vínculos permanentes. Trump é pragmático: alianças só valem enquanto trazem benefícios. Essa ideia aparece com força em Ram: a Europa, outrora aliada estratégica dos EUA contra a URSS, hoje representa um fardo, um ente industrial decadente, refém de burocracias e de uma demografia suicida. Em contraste, Índia, Israel, Arábia Saudita e até a África são apresentados como novos polos de energia e vigor estratégico.


O desdém por alianças fixas revela um realismo cru. Na linguagem de Trump, “as pessoas mudam, as circunstâncias mudam e você precisa mudar junto.” É isso que a análise de Ram propõe: uma reconfiguração da rede de alianças dos EUA, afastando-se da dependência europeia e aproximando-se de nações com potencial de crescimento militar, tecnológico e industrial.



5. Política externa como grande negócio: “o negócio do século”



A política externa de Trump, tanto em sua retórica quanto em seus atos (Jerusalém, Irã, Coreia do Norte, Acordos de Abraão), é a transposição de sua visão de negócios para o cenário internacional. Os objetivos de Netanyahu, descritos no texto de Ram — impedir um Irã nuclear, redesenhar fronteiras e firmar parcerias comerciais e militares — são exemplos de “grandes negociações” à la Trump. Cada item é uma cláusula de um contrato de reposicionamento geopolítico, onde o Estado de Israel aparece como parceiro estratégico do “novo CEO do mundo livre”.


Em A Arte da Negociação, Trump escreve: “Você não ganha grandes prêmios sem assumir grandes riscos.” A política israelense, segundo Ram, está assumindo esses riscos com frieza, estratégia e timing. A ideia de um “evento sem precedentes na história sionista” remete a um tipo de megaacordo que Trump admira: simbólico, arriscado e profundamente transformador.



6. O colapso como oportunidade: usando o medo como vantagem



Trump sempre viu a crise como uma oportunidade. Ele construiu (e reconstruiu) impérios após falências, e sempre usou a ameaça do colapso para renegociar dívidas e contratos. No plano geopolítico, isso se traduz na percepção de que o declínio europeu, a crise demográfica, o aumento do islamismo radical e o esgotamento fiscal são oportunidades para redefinir o sistema mundial.


Ram aponta que o colapso europeu pode abrir espaço para a emergência de novos atores. É a mesma lógica de negócios descrita no livro: “Quando os outros estão desesperados, você está em vantagem.” A nacionalização de bens, o aumento de impostos, o alistamento militar compulsório — tudo isso, embora trágico, serve como alerta e argumento de força para negociações radicais.



7. O retorno ao poder bruto: economia, indústria e força militar



Um dos princípios centrais de A Arte da Negociação é que tudo gira em torno do poder. Para Trump, “negociação não é um processo para encontrar soluções justas, mas para impor a melhor solução possível para você.” O texto de Ram traduz esse princípio no plano das relações internacionais: não se trata de equidade, mas de supremacia. Não se trata de consenso climático ou de diplomacia multicultural, mas de força — tecnológica, industrial, militar.


É por isso que as tarifas, os bombardeiros, as reorganizações territoriais, os pactos de defesa e os acordos comerciais são peças de um mesmo jogo: o de restaurar a posição dos EUA (e de seus aliados estratégicos) como forças centrais de uma nova ordem. Uma ordem que não será decidida em fóruns internacionais, mas em negociações bilaterais brutais e, quando necessário, no campo de batalha.



8. A visão de longo prazo: o mundo cem anos à frente



Trump critica a visão de curto prazo da política tradicional: “Muitos líderes querem ser populares hoje, mesmo que isso custe caro no futuro.” Ram ecoa essa crítica ao defender que Trump está agindo com uma visão de cem anos à frente — não pelos índices do próximo trimestre, mas pelo desenho do século. A aposta em países como Índia, Israel e Argentina reflete essa visão: são países com potencial demográfico, industrial e ideológico de sustentação da nova ordem.


A ênfase em fronteiras, soberania, natalidade, indústria e força militar são os pilares desse futuro. Enquanto Europa e setores progressistas dos EUA discutem clima, gênero e inclusão, a lógica trumpista — e a análise de Ram — aposta em quem constrói, protege e produz. Negociação, nesse cenário, é sempre uma batalha entre quem tem algo a oferecer e quem apenas pede concessões.





Conclusão: A Arte da Geopolítica como Arte da Negociação



“A Arte da Negociação” não é apenas um manual para negócios. É, na verdade, uma filosofia de poder. No mundo descrito por A Guerra das Superpotências, essa filosofia se torna geopolítica. Tarifas viram armas. Alianças viram contratos. O colapso vira vantagem. A negociação, no fim, é a linguagem universal do século XXI — e Trump é seu intérprete mais direto.


Se Ram estiver certo, estamos entrando num tempo em que não haverá mais espaço para ilusões, sentimentalismos ou fórmulas mágicas de cooperação. Haverá apenas estratégia, barganha e força. E, nesse mundo novo, o negociador mais implacável será o rei.

 
 
 

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