
Ao longo da história, grandes impérios e dinastias têm surgido e declinado, frequentemente após longos períodos de estabilidade e sucesso. O Império Romano, que por séculos dominou grande parte do mundo ocidental, encontrou seu fim em meio a pressões internas e externas, levando à sua queda no ano de 476 d.C. Agora, ao observarmos o cenário político curitibano de 2024, é impossível não traçar paralelos entre o declínio da dinastia Lernista, que governa Curitiba desde 1989, e a ascensão do movimento conservador liderado por Cristina Graeml, que ameaça romper com décadas de uma política centrada na continuidade administrativa e no controle das elites tradicionais da cidade.
O Declínio do Império Romano: Um Enfraquecimento Interno
A queda de Roma não aconteceu de forma repentina. Ao longo dos séculos, o império enfrentou uma série de crises que minaram suas fundações. Corrupção, problemas administrativos, desordem econômica e uma vasta expansão territorial que era difícil de administrar levaram o Império Romano a um enfraquecimento contínuo. As invasões bárbaras, como a dos visigodos e dos hunos, foram o golpe final, mas o colapso já havia sido traçado por crises internas.
De maneira semelhante, a dinastia Lernista, que tem governado Curitiba por mais de três décadas, vem mostrando sinais de desgaste. Apesar de um início marcado por grandes avanços urbanos, melhorias estruturais e modernização da cidade, o controle de Jaime Lerner e seus sucessores, como Rafael Greca e seus aliados, começou a perder força conforme os desafios modernos se acumulavam. Eduardo Pimentel, atual representante desse legado, herdeiro político dessa linhagem, enfrenta agora o maior desafio de sua campanha: convencer os eleitores de que o projeto iniciado nos anos 90 ainda tem fôlego para lidar com os problemas de uma Curitiba moderna, desigual e pressionada por novas demandas sociais e econômicas.
Cristina Graeml: O Movimento Bárbaro que Rompe com o Sistema
Assim como as tribos bárbaras que invadiram Roma e forçaram o colapso de um império já fragilizado, o movimento conservador liderado por Cristina Graeml aparece em Curitiba como uma força disruptiva. Graeml representa a insatisfação de uma parte considerável do eleitorado com o establishment político que tem dominado a cidade por décadas. Seu discurso de renovação, combinado com valores tradicionais, ressoa especialmente em bairros conservadores da capital paranaense. Sua proposta é clara: romper com o ciclo de uma elite que parece cada vez mais distante das necessidades reais da população.
Assim como os visigodos, que inicialmente chegaram a Roma como aliados, apenas para se rebelarem contra o sistema falido, os eleitores conservadores de Curitiba, que outrora podiam ter se alinhado com a dinastia Lernista, agora se voltam para Graeml como a promessa de renovação e combate à corrupção. Ela se apresenta como a líder que pode devolver aos curitibanos uma administração focada em eficiência, valores tradicionais e políticas que ecoam um desejo por ordem e progresso.
A Desconexão com a População: Um Fator Comum
Um dos fatores determinantes para a queda do Império Romano foi a desconexão entre os líderes e a população. Enquanto os imperadores continuavam a desfrutar de luxo e poder, a base da sociedade romana sofria com crises econômicas, fome e insegurança. As necessidades da população não eram mais atendidas por um império que estava sobrecarregado, ineficiente e, em última análise, incapaz de proteger seus cidadãos.
Na Curitiba de 2024, um fenômeno semelhante pode ser observado. A dinastia Lernista, embora inicialmente responsável por grandes projetos de urbanização, como o sistema de transporte público BRT e a expansão de espaços verdes, parece ter se desconectado das necessidades contemporâneas de seus cidadãos. O alto custo de vida, os desafios de mobilidade urbana e a crescente desigualdade social criaram um ambiente de insatisfação entre muitos eleitores, especialmente os de áreas periféricas, onde a infraestrutura não acompanhou o desenvolvimento central da cidade. Cristina Graeml, com seu discurso populista e sua promessa de combate ao "sistema", soube captar essa insatisfação e transformá-la em força eleitoral.
A Ascensão do Conservadorismo: Um Novo Caminho para Curitiba?
A ascensão de Cristina Graeml representa, assim como o colapso de Roma, uma mudança drástica no paradigma político. Sua proposta de governo, centrada em livre mercado, valorização da propriedade privada, educação empreendedora e gestão eficiente e disruptiva, traz uma nova visão para Curitiba. Graeml propõe uma Curitiba onde o poder público não é um obstáculo, mas sim um facilitador para que cada cidadão possa alcançar seus objetivos. Sua promessa de cortar desperdícios, otimizar a máquina pública e reduzir a carga tributária é uma ruptura direta com o modelo mais expansivo e interventor dos Lernistas.
Contudo, assim como no colapso do Império Romano, a ascensão de uma nova liderança conservadora não vem sem desafios. Graeml precisará provar que seu modelo de gestão pode lidar com os complexos desafios de uma Curitiba moderna, como a necessidade de investimentos em infraestrutura, a crise de mobilidade urbana e o crescimento de bolsões de pobreza nas periferias. Além disso, terá que demonstrar que sua visão de uma gestão "enxuta" pode, de fato, trazer os resultados prometidos sem comprometer a qualidade dos serviços públicos essenciais.
Conclusão: O Fim de uma Era e o Início de Outra
Assim como a queda de Roma marcou o fim de uma era e o início da Idade Média, o declínio da dinastia Lernista e a ascensão de Cristina Graeml em Curitiba podem representar uma virada na política local. A questão que permanece é se essa nova liderança será capaz de sustentar as expectativas que está criando e se poderá lidar com os desafios estruturais e sociais que a cidade enfrenta.
Cristina Graeml representa o novo, o disruptivo, mas também carrega a responsabilidade de transformar a insatisfação popular em governabilidade. Se bem-sucedida, poderá ser lembrada como a líder que encerrou o ciclo de uma dinastia enfraquecida e trouxe uma nova era para Curitiba. Se falhar, corre o risco de ver sua administração engolida pelos mesmos problemas que derrubaram seus predecessores.
A história, como sempre, oferece lições valiosas. A queda de Roma e a ascensão das forças bárbaras nos lembram que todo império, por mais grandioso que seja, está sujeito às forças do tempo, da mudança e da renovação. Curitiba está agora à beira de sua própria transformação. Resta saber se Cristina Graeml será a responsável por escrever o próximo capítulo ou se o sistema que ela tanto critica encontrará uma forma de se reerguer.
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